quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Ausência e a carência transformam-se em abundancia.

C Cristã Videira


João 6.1-15...

O texto trata de uma multiplicação de pães e peixes doados por uma criança que seguia Jesus em meio à multidão. A palavra VIDA aparece 47 vezes neste evangelho – A vida em abundância (Jo 10.10) é o horizonte de uma comunidade que tem como desafio diaconal inúmeros enfermos, cegos, coxos, paralíticos e pobre (5.1-9).
As declarações de Jesus como o PÃO DA VIDA (6.22-59) se dirigem às pessoas que tem carência de pão.
A ministração feita pelo pastor Israel sobre as Bodas de Caná indica que a família não tem vinho suficiente para festa de casamento (João 2) e que Maria, Jesus e seus discípulos foram convidados para esta festa, a mãe de Jesus percebe algo de errado, um problema - a falta de vinho (naquela época a falta de vinho em uma festa de casamento era desonrosa para família) → Mas ela como convidada percebe e leva a situação a Cristo.

Partindo deste principio vejo que na multiplicação dos pães e peixes foi resultado da percepção e da atitude de seus discípulos.

1. Atitude de Felipe → Impossibilidade humana. vs.5-7 → Este Pão que alimenta não está à venda. (200 denários corresponde ao salário de 200 dias trabalhado por um trabalhador comum do campo).

A temática gira em torno do pão. O pedido de pão e a auto declaração de Jesus como o pão da vida (v.35). É marcante a realidade de que há pouco pão e peixe para alimentar a multidão.

As expressões “danos sempre desse pão” (povo) e “jamais terão fome” (Jesus) indicam carência e escassez presentes numa comunidade e há promessa escatológica de não haver mais fome (v.35).

O milagre dos pães multiplicados reforça o aspecto da refeição como refeição coletiva e sagrada. “Alimentar-se não é, então, ato individual, mas comunitário, sob o olhar daquele que dá o pão. Na oração do Pai Nosso, o pedido pelo pão cotidiano é a segunda petição da oração, seguida do desejo de descanso.

2. Atitude de André → Possibilidade de Deus v.10.

André tem um papel crucial no relato, embora sua palavra e postura pareçam bastante tímidas. Ele vê uma possibilidade real de partilha no pouco. O que estava nas mãos da criança é indicado como oferta para saciar a fome de muitas pessoas.
Uma multidão se achegou a Jesus, seguindo-o, porque curava doentes (v. 2). Jesus distribuiu o pão a toda a multidão presente, que, faminta, é chamada a reclinar-se para a refeição (v. 10 e 11). Fazei o povo assentar-se, ou seja, descansar e esperar.

3. Atitude da criança → igreja.

A palavra pai-dárion (paida,rion) é um infinitivo, usada em relação a uma criança pequena, menina ou menino, ou escrava/escravo jovem → A criança ou jovem não tinha prerrogativa ou status social, econômico ou religioso. Ela é menor e menores não decidem nem determinam nada. Na linguagem de Filon ( filósofo), em seus tratados sobre o Decálogo e sobre as leis particulares, que representam o pensamento greco-romano vigente, fica evidente a posição que crianças e jovens ocupavam na sociedade. As pessoas maiores – pais e pessoas mais velhas – gozam de preeminência sobre as mais jovens. No tratado sobre as Leis particulares, Filon afirma que os pais pertencem à ordem superior, pois são pessoas maiores, instrutores, benfeitores, governantes e senhores, enquanto que as filhas e os filhos estão situados na ordem inferior (menores), pois são menor de idade, discípulos, beneficiados, subordinados e escravos (1Co 9.19).
No relato de João, a criança é colocada como paradigma e como a que tem os meios de fazer acontecer à partilha. Porém não lhe é dada voz ativa. A criança disponibiliza os recursos e os meios da partilha, participando do processo, mas não faz perguntas, não contesta. O que estava nas mãos da criança é indicado como oferta para saciar a fome de muitas pessoas.

Ao ler Mt 14.19 → Diz que a multiplicação é realizada através dos discípulos (ou seja, de sua igreja) e além de Deus trabalhar com a impossibilidade humana Ele faz sobrar 12 cestos de pães – v.20.

A partilha, em João (6), acontece a partir daquilo que a comunidade tem à disposição e não daquilo que é dado como uma concessão por alguém de fora. E, nesse caso, são cinco pães de cevada e dois peixes secos, que estão em posse de uma criança. A relação que se estabelece é de uma economia solidária. Pães de cevada são alimentos dos pobres, pois a cevada tem o valor de mercado menor que o trigo. Contudo, é o pão das primícias, já que a cevada é mais precoce em relação ao trigo (Lv 9.14; 23.17; Êx 23.19). Esse pão passa a ser o pão ritual (v.11).
Cristo é o pão que alimenta sua igreja – Jo 6: 33,35,48,51,58.

Jander Costa.
 
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