quinta-feira, 8 de outubro de 2009

SIMONTON - UM PIONEIRO DO EVANGELHO

Mochila nas Costas e Diário na Mão – A Fascinante História de Ashbel Green Simonton, é o novo livro de autoria do Rev. Elben M. Lenz César, diretor da revista Ultimato, publicado dentro da programação comemorativa do centenário do Presbiterianismo no Brasil. O livro é uma biografia do pioneiro daquele ramo reformado em nosso Pais, à base, principalmente, do seu diário. Na contracapa encontramos um bom resumo da vida daquele missionário: “Ele organizou o primeiro jornal protestante da América do Sul (1864), a primeira escola paroquial (1866), o primeiro seminário (1867) e ordenou o primeiro pastor brasileiro (1865). Desembarcou no Rio de Janeiro em 1859 e morreu de febre amarela em São Paulo, aos 34 anos, em 1867. Uma vida breve, que mudou a história”.
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Embora as igrejas protestantes de imigrantes (Anglicanas e Luteranas) já estivessem estabelecidas entre nós durante a os períodos do Reino Unido e Primeiro Reinado, é na segunda metade do século XIX (Segundo Reinado e Primeira República) que irão aqui aportar os pioneiros do protestantismo de missão aos brasileiros, e em língua portuguesa:
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Igreja Congregacional: Rev. Robert Reid Kalley – 1855;
Igreja Presbiteriana: Rev. Ashbel Green Simonton – 1859;
Igreja Metodista: Rev. Junius E. Newman – 1867;
Igreja Batista: Reverendos William Buck Bagby e Zacarias Clay Taylor;
Igreja Episcopal (Anglicana): Reverendos Lucien Lee Kinsolving (primeiro bispo) e James Watson Morris – 1890.
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Esses cinco ramos reformados foram os únicos entre 1855 e 1909, conseguindo se expandir nacionalmente, sob as restrições legais da Constituição Imperial, de 1824, e sob a severa perseguição social durante o período republicano (após 1889). Há textos sobre esse primeiro período de cada igreja, e de seus pioneiros. Um livro recomendado para a segunda metade do século XIX é o clássico Protestantismo, Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil, de David Gueiros Vieira.
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A primeira metade do século XX irá presenciar a expansão do protestantismo histórico, suas igrejas e suas instituições, bem como a chegada do Pentecostalismo e dos ‘corpos de santidade’, destacadamente:
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Congregação Cristã do Brasil: Louis Francescon – 1909;
Assembléia de Deus: Gunnar Vingren e Daniel Berg – 1910;
Exército da Salvação: David Miche – 1922;
Igreja do Evangelho Quadrangular: Harold Williams – 1946.
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Essa é a época da criação da Associação das Escolas Bíblicas Dominicais e da Confederação Evangélica do Brasil (CEB). Um texto recomendado é Protestantismo no Brasil, de Emile Leonard. Há pesquisas sobre pioneiros regionais muito interessantes, como A Bíblia e o Bisturi, do Rev. Edjéce Martins, sobre os missionários médicos George Butler, pai e filho, que, a partir da pequena cidade de Canhotinho, PE, irradiaram o Presbiterianismo pela região Agreste daquele Estado. Uma análise sobre a missiologia evangelical e ecumênica é o trabalho de Luis Longuini Neto.
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Essa história, tão rica, do protestantismo no Brasil, não se resume a nomes e datas, para a implantação de igrejas e instituições e a elaboração de um pensamento, a partir da herança de cada ramo reformado e de sua inserção em nossa cultura luso-afro-ameríndia.
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A crise do Protestantismo hoje passa pela ignorância e pela rejeição do legado do passado, bem como da desvalorização da cultura nacional, o que concorre para a irrelevância e a não inculturação, a despeito do crescimento quantitativo. Seminários sem as disciplinas de Cultura Brasileira e Teologia Latino-Americana, e líderes que não conhecem a nossa literatura, nem as clássicas obras interpretativas do Brasil, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado, Florestan Fernandes e Raymundo Faoro, entre tantos hoje, não nos conduzirão a lugar algum.
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Embora haja um setor que procura resgatar e atualizar a história e a identidade evangélica em sua brasilidade, o presentismo e o anglosaxonismo (como novo ‘helenismo’) crescem em duas vertentes:
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a) a neo(pseudo)pentecostal da prosperidade e batalha espiritual;
b) a macetista, das últimas novidades pragmáticas de origem forânea.
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Seja a alienação com ênfase no mundo além túmulo e além história (escatologia), seja o sectarismo moralista, seja a criação de bolhas locais personalistas promotoras da “salvação das almas’+ educação moral e cívica pequeno-burguesa, estaremos naquela de uma estrada que leva do nada a coisa nenhuma”.
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Ler biografias como a de Simonton, e conhecer experiências regionais, que terminaram no estabelecimento de convenções, presbitérios, sínodos, dioceses, regiões, distritos, ou qualquer outra nomenclatura, é saber que é possível se fazer história, se construir instituições e se elaborar ideários. Tem sido assim por dois mil anos, quando há convicção, identidade, compromisso e ética.
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Daí a procura, nos doze anos passados, de implantar o Episcopado e uma Diocese Anglicana no nordeste do Brasil não tinha nada de utopia. Era um projeto plenamente possível se os seus atores – como tantos outros no passado – tivessem agido de boa fé.
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Reconhecer porque isso não ocorreu, como poderia ter ocorrido, é imprescindível para que não venha outra vez a ocorrer. Para avançarmos para o futuro, deixando para trás o passado, não podemos varrer o mal para debaixo do tapete, ou sermos paralisados por eternas “gratidões afetivas”, e, sim, temos que dar nomes aos bois, explicitando a tragédia dos pecados dos cismas, das heresias e dos projetos personalistas.
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Se Simonton tivesse vivido a conjuntura dos anglicanos e “anglicanos” no Nordeste do Brasil nos anos recentes, sua história e o seu legado teriam sido bem diferentes.
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Para construir a História é preciso aprender com ela, se queremos chegar a algum lugar.
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Recife (PE), 05 de outubro de 2009.
+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano
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Secretaria Episcopal
Diocese do Recife - Comunhão Anglicana
Escritório Maceió - AL
(das 8h às 13h)
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Visite nossa página: www.dar.org.br
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"E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado. O menor virá a ser mil, e o mínimo uma nação forte; eu, o Senhor, ao seu tempo o farei prontamente" (Isaías 60:21-22).

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